Mandioca na Bacia do Rio Demene


Texto de Cristina Mattos - Pesquisadora da Embrapa Monitoramento por Satélite


Foto: Cristina Mattos/Embrapa Monitoramento por Satélite

A mandioca é, sem dúvida, a mais importante de todas as culturas praticadas ao longo do Rio Demene. Cultivada por quase todas as famílias (93,5%), além dos índios ianomamis habitantes da bacia, é a única que permite alguma capitalização. Outras culturas anuais como cana-de-açúcar, milho, feijão-de-corda e pimenta-do-reino também são freqüentes, mas usadas apenas para fins de subsistência. As frutas, de maneira geral, são cultivadas para consumo próprio por todas as famílias, mas nunca em grande quantidade. A mandioca é a única monocultura cultivada em uma área significativa naquela região: um total de 30,73 ha foi plantado em 1992 pelas 31 famílias ribeirinhas, ou 0,99 há em média por família.

A mandioca (foto 2), Manihot esculenta Crantz, também conhecida como macaxeira, aipim, manduba ou diversos outros termos conforme a localidade considerada, é originária da América do Sul, onde os índios, especialmente guaranis, já a cultivavam desde antes da chegada dos europeus.

Esta planta herbácea, de porte médio, que pode ser cultivada em áreas quentes e úmidas da região localizada entre 30 graus de latitudes Norte e Sul, tem grande importância para diversos países tropicais da África e América do Sul, onde tornou-se a base da dieta alimentar. No Brasil, que já foi o maior produtor mundial, mas recentemente perdeu esta posição para a Tailândia, ela é cultivada em todo o território nacional, com exceção do sul do Rio Grande do Sul. A produção anual, em 1993, estava em torno de 25 milhões de toneladas e previa-se naquela época uma grande expansão da cultura no país.

As variedades de mandioca geralmente cultivadas na Região Norte são a mameluca e a cachimbo.

Muitos aspectos da exploração da mandioca e de seus subprodutos na Bacia do Rio Demene são elementos herdados da cultura indígena: a preferência pela farinha amarela, a "produção de farinha d'água", o uso do tapiti (prensa em forma de cesto) e o aproveitamento do tucupi (é a parte líquida que sobra do suco da mandioca depois que esta é prensada, ingrediente típico da cozinha da Região Norte).

As roças são individuais, cada família tem a sua, mas o processamento da farinha geralmente é coletivo. Em cada povoado existe um número restrito de casas-de-farinha, compartilhadas por todas as famílias do local. É um processo que envolve todos os membros da família, resultando na produção de 150 a 180 kg por dia.

O principal subproduto extraído das raízes da mandioca, típico da Região Norte, é a "farinha d'água". A sua produção envolve diversas etapas:

A farinha assim produzida é vendida na cidade de Barcelos por um preço em torno de Cr$ 6.000,00/paneiro (US$ 17,1 agosto de 1991), no caso das comunidades próximas como Pai Raimundo e Samaúma. As comunidades mais distantes de Barcelos, por dificuldades de transporte, são forçadas a vender sua farinha para comerciantes (foto 6) que sobem o Rio Demene por um preço bem inferior ao da cidade (em torno de Cr$ 4.000,00 ou US$ 11,4/paneiro em agosto de 1992). Geralmente, estes comerciantes trocam a farinha por mercadorias ou alimento, também chamado de "rancho".

Além da comercialização, uma pequena parte da produção de mandioca é destinada ao consumo familiar. Além da farinha, consumida "in natura", na forma de bolos (foto 7) ou outros pratos, consome-se a raiz cozida ou frita, e as folhas são usadas para alimentação das criações animais. Por suas propriedades nutritivas, a mandioca é grande fornecedora de energia: rica em carboidratos (amidos e açúcares), também é fonte de vitaminas e sais minerais (vitamina C, cálcio, fósforo e ferro).

O rendimento médio da mandioca na Bacia do Demene é de 96,25 paneiros por roça, 97,22 paneiros por ha ou 2.916 kg de farinha por ha. A produtividade da mandioca na região fica, portanto, bem abaixo da média brasileira (12.400 kg/ha) e do Estado do Amazonas (11.850 kg/ha). É também bastante inferior à menor produtividade média do Brasil, a do Estado do Maranhão (8.000 kg/ha). Atinge apenas 10% das maiores médias do país: Paraná (21.800 kg/ha) e São Paulo (20.000 kg/ha) (fonte: IBGE, 1990).

(faltam fotos 1, 3 e 6)