Caça e Pesca: a invasão dos Geleiros


Reportagem de Liana John, jornalista da Agência Estado, AE


Foto: Cristina Mattos/Embrapa Monitoramento por Satélite

A ilegalidade da caça é amplamente ignorada no alto rio Negro, no estado do Amazonas, como, aliás, em quase todas as regiões distantes dos grandes centros urbanos do país. Só que a carne de animais silvestres, antes de ser um troféu de caçadores esportivos, é um complemento alimentar ainda importante para as populações ribeirinhas.

No alto Negro e em seus afluentes, a contribuição da agricultura, em termos proteicos, é muito baixa. Não há condições de grandes melhorias, senão com investimentos em tecnologias e insumos adequados aos solos pobres e condições climáticas adversas daquela região, o que não faz parte dos grandes planos de pesquisa do país. A criação de aves, suínos ou gado é insignificante e também depende de insumos, via de regra inacessíveis às comunidades distantes e sem recursos.

A substituição da proteína de animais silvestres por proteína vegetal ou de animais domésticos, no cardápio da população, portanto, não é apenas uma questão de fiscalização rigorosa, senão de alternativas tecnológicas e políticas e até de mudanças culturais. Enquanto nada disso é acessível, a caça e mesmo a comercialização de carne silvestre continua parte da rotina dos ribeirinhos.

Os pesquisadores da Expedição Demene fizeram uma avaliação da importância dessa caça para a população e de seu provável impacto sobre as espécies da região. Segundo as conclusões preliminares dos pesquisadores, essa caça de sobrevivência ainda não ameaça as espécies, porque há pouca gente e as quantidades caçadas são relativamente baixas.


Foto: Clayton F. Lino/AE

O problema está no afluxo, a cada ano maior, de caçadores profissionais de fora, que sobem os rios com barcos geleiros para abastecer os mercados e restaurantes clandestinos das grandes cidades. Um problema que afeta também a pesca, embora esta não seja ilegal. Os pescadores de fora vem com grandes barcos e redes de arrasto, que matam peixes de todos os tamanhos e qualidades para obter as três espécies que interessam aos consumidores urbanos e restaurantes: tambaqui, tucunaré e pirarucu.


Foto: Clayton F. Lino/AE

A pesca de sobrevivência tem sido tão prejudicada, que os moradores estão tomando providências por conta própria. A inadequação das leis nacionais a tal realidade, a ausência de fiscalização e de um planos de manejo racionais pode comprometer, a médio e longo prazo, recursos pesqueiros e cinegéticos. E o que é pior: sem necessidade, apenas por falta de decisão.