Amazônia


A Amazônia compreende uma área de 50% da América Latina, repartida entre nove países. Seus 6,5 milhões de Km² cobertos pela maior floresta tropical úmida contínua do planeta representam um patrimônio inestimável. No Brasil, as formações arbóreas ocupam 3,5 milhões de Km² e ainda estão preservadas em mais de 90% de sua extensão, conforme demonstrado pelo INPE através dos dados obtidos das imagens do satélite LANDSAT/TM, onde o desmatamento passou de 54.130 Km², em 1978, equivalentes a 1,1% da Amazônia Legal, para 312.864 Km² (6,4%) em março de 1990.

Sua importância é facilmente compreendida pelo conceito macrorregional de "Amazônia Legal". Consagrado pelo planejamento público brasileiro e definido legalmente por critérios técnicos e sócio-políticos, este conceito recobre 4.906.784 Km², representando 57% do território nacional.

Composta por dois escudos cristalinos pré-cambrianos e por uma bacia sedimentar situada entre eles, a Região Amazônica tem proporções continentais e transhemisféricas. Sua aparente homogeneidade abrange uma diversidade de situações agroecológicas muito grande. Podem ser distinguidas 70% de formações florestais tropicais úmidas, abrangendo desde de as altamente diversificadas até as monoespecíficas e correspondendo a 78% das florestas brasileiras; 15% de cerrados, campos de várzeas, lavrados, campinas e campos de altitude e o restante de atividades agropecuárias, cidades, garimpos, áreas de extração madereira e outros usos. Esta pluralidade de cenários só está protegida como parques ou reservas em 5% de sua extensão e é explicada pelo comportamento de muitos parâmetros físicos cujas variações seguem gradientes significativos, tais como o hipsométrico (0 a 3000 m); pluviométrico (1200 a 3000 mm anuais); edáfico; geológico e geomorfológico.

As condições ambientais, tanto em escala local como global, são complexas e expressivamente condicionadas pela floresta onde 8% do Carbono da biosfera está armazenado. Gigantesco sistema de transferência de calor, uma vez que responde por cerca de 20% do ciclo de água doce do planeta, a Região Amazônica contribui com vapor e calor para as demais regiões do país e do globo. É também fonte de gases biogênicos e aerossóis. Através da intensa convecção característica da região, eles alcançam rapidamente elevadas altitudes, afetando a composição química da troposfera e consequentemente o clima global.

O potencial para exploração econômica da Amazônia é muito amplo e variado. Historicamente já consagrados pelo extrativismo, são inímeros os produtos vegetais (madeira, borracha, guaraná, babaçu, juta, tucumã, açaí, castanha-do-pará, pupunha, plantas medicinais, etc.) e animais, tanto para a pesca como para a caça. Existem enormes recursos minerais (ferro, manganês, cassiterita, bauxita, ouro, cobre e níquel); hidroelétricos (45% do potencial nacional) e agrapecuários, principalmente nas várzeas. Por fim, ainda a ser desvendadas, permanecem as reais dimensões e possíveis aplicações do banco genético da região estimado modestamente em 80.000 espécies vegetais e um milhão de animais.

Durante séculos a penetração humana nessa região se processou basicamente através dos rios. A população manteve-se pouco numerosa devido a alta mortalidade relacionada às endemias rurais e à escassez de alimentos. As atividades econômicas concentraram-se principalmente no extrativismo vegetal, animal e mineral, atravessando vários ciclos de expansão e declínio, produzindo poucos impactos ambientais negativos, mas também sem gerar desenvolvimento social durável.

Nos anos 60, com a construção de Brasília (DF) e de sua ligação a Belém (PA), iniciou-se uma segunda fase de ocupação, cujo auge de expansão foi marcado pela abertura da rodovia Transamazônica, pavimentação da BR-364 e criação da zona franca e industrial de Manaus. Neste processo de ocupação, as atividades extrativistas têm diminuído de importância relativa e substituídas pela exploração e transformação industrial de minérios (tanto em escala empresarial, como o Projeto Grande Carajás, ou de forma mais difusa, como o garimpo) e pela expansão da agropecuária. A difusão destas atividades foi incrementada pelos mais de 4000 MW gerados com a construção, a partir de recursos externos, de grandes empreendimentos hidroelétricos como Tucuruí no Pará, Balbina no Amazonas e Samuel em Rondônia.

Na área agrícola, milhares de agricultores instalaram-se em grandes e pequenas propriedades ou em projetos agropecuários implantados por empresas nacionais privadas ou pelo governo. Em função da ausência de estudos e planejamentos criteriosos, muitos destes projetos foram instalados em regiões impróprias para a atividade agrícola. Os agricultores utilizaram sistemas de produção e cultivo nem sempre adequados às características agroecológicas da região. Esta ocupação desordenada conferiu à agrícola uma dinâmica marcada por limitada produtividade, impactos ambientais crescentes e qualidade de vida rural e urbana ruins.

Todas essas intervenções humanas na Amazônia trouxeram diversos impactos sócio-ambientais graves como erradicação de ecossistemas , poluição de rios, perda de biodiversidade, redução do potencial produtivo dos solos, erosão, perturbação de comunidades locais, destruição de sítios arqueológicos, desmatamentos, queimadas, destruição e aculturação de povos indígenas, conflitos de fronteira, incremento do tráfico e do plantio de drogas etc.

Hoje os mecanismos federais de incentivo, característicos dessa segunda fase de ocupação da Amazônia, estão suspensos ou extintos. Porém, as graves consequências ecológicas e sociais geradas por este processo de ocupação caótico preocupam o Brasil e o mundo e afetam principalmente a população residente na Região Norte, cujo contingente passou de 5.880.268, em 1980, para cerca de 15 milhões de habitantes, atualmente.